A quarentena acabou, mas o vírus deixou sequelas.
Detalhes:
Maio 2020
143 palavras
Gênero: microconto
Máscaras
Você tem que ter um sorriso que alcança os olhos, mamãe dizia. Porque as máscaras cobrem a boca.
Clara encarou o chão. As luzes do seu tênis rosa refletiam no piso de cerâmica. A moça ao seu lado ajeitou o blazer e rabiscou na prancheta, o plástico da luva roçando contra a caneta. Será que depois que tudo voltasse ao normal, as pessoas ainda usariam luvas e máscaras?
Normal. Clara apertou o coelho de pelúcia contra o peito. Ele a protegia dos pesadelos.
Sua mãe não usava a saia de chita vermelha que era sua preferida. Ela vestia um roupão hospitalar. O cabelo crespo murcho enquadrava seu rosto pálido. Quem ia proteger ela dos pesadelos?
Ela parecia estar dormindo, não fosse pelo caixão.
“Vai ficar tudo bem,” a assistente social disse, voz abafada pela máscara.
O sorriso de Clara não alcançou os olhos.
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